O corpo, a moda e os desejos

A relação do corpo com o meio ambiente se iniciou com a busca pelo contato do ser humano com o divino. Representar elementos criados por um ser superior em seu corpo tornava o homem tão importante quanto os objetos desenhados. Aproximava-o do céu.

Logo a forma de ver mudou. A visão do Criador ficava em segundo plano, pois percebemos que os outros nos olhavam diferente quando nos pintávamos. Recebemos notoriedade pela pintura corporal e enxergamos novas possibilidades de interação com o outro.

Á medida que nossa percepção muda, mudam nossos valores. A forma como interagimos com os outros se molda pela forma como vemos e somos vistos. Michel Mafesolli, professor de Sourborne, França, “diz que nos vestimos pelos olhos dos outros. Somos um reflexo do que se espera que sejamos”’.

Mas onde, por cargas d’água, nos perdemos do real sentido do nosso corpo? Quando passamos a ser uma tela pintada pela mão do outro?

Muitas pessoas se questionam, outras pensam “Pra quê?”. ORLAN é uma artista francesa, performática, que por meio de cirurgias plásticas faz intervenções em seu rosto desde 1990 para se parecer com quadros e esculturas que ela vê. O trabalho da artista ainda engloba filmar suas cirurgias e pasmem, ela não recebe anestesia!

O objetivo principal de ORLAN é questionar a forma como interagimos com nossos corpos; o real valor que damos para as obras de arte que somos. Entender e explicar os atos extremos que somos capazes de cometer por um culto exagerado ao corpo e por termos um entendimento errôneo do sentido de nossas vidas e de nosso ser.

Ela é mais uma pessoa que busca oferecer, com seu trabalho, uma visão sobre a moda, sobre as relações entre as pessoas e da complexidade que existe no interior de cada ser humano, característica que nos distingue e nos fascina. O desafio de nos conhecermos é o que nos torna interessantes. O que deve nos motivar.